Uma cascata de intervenções !
Imaginem um parto domiciliar em que a mãe está sendo bem assistida, ao lado de pessoas que a amam e que não irão forçar uma situação que a gestante não pediu ou não escolheu daquela forma. Vou deixar bem claro aqui que estou falando de um parto saudável, em que mãe e bebê estão sendo monitorados, e tudo vai muito bem obrigada! É óbvio que incidentes acontecem e podemos precisar sim de intervenções NECESSÁRIAS!
Agora, imaginem uma mãe chegando em uma maternidade, dessas que nós conhecemos muito bem, um local onde 90% acabam em cirurgia, onde plantonistas só querem terminar o mais rápido possível o seu trabalho, não consigo nem explicar o porquê, se eles estão de plantão, eles deveriam ter todo o tempo do mundo, mas enfim, esta é a nossa realidade. Continuando... então essa parturiente chega no hospital ainda na fase latente, que é o início do TP mais ou menos com 4cm de dilatação, uma gestante que não foi informada, que não sabe o que está acontecendo com o seu corpo, assustada, sem saber o que fazer . Colocam ela na cadeira de rodas (1° intervenção) , vão examiná-la e ela vai p o C.O. e dizem para o acompanhante ficar do lado de fora que na hora do nascimento eles virão chamá-lo, quanta bondade, (segunda intervenção), aí começam os preparativos, tricotomia, lavagem intestinal, colocam o sorinho e orientam que ela fique deitada (mais quatro intervenções), tudo isso foi feito porque são "normas" do hospital, eles fazem dessa forma porque fazem!
Nesta hora, o TP é interrompido, pois tiraram o direito ao seu acompanhante, ela está insegura, frágil, com frio e com medo e deitada por imposição, o seu corpo já não libera mais a ocitocina("hormônio do amor", que faz com que seu útero contraia)e sim está cheio de adrenalina, e ocitocina e adrenalina nunca andam juntos, se um sobe o outro desce! Então a equipe decide dar uma ajudinha, pois está demorando demais e as contrações diminuiram muito! Começa a indução com a ocitocina sintética(sétima intervenção)o que torna as contrações muito mais doloridas, então a gestante não suporta mais tanta dor e não tem uma mão amiga que ela possa segurar, eles oferecem analgesia (oitava intervenção), "que alívio, que equipe maravilhosa!"
Chega a dilatação total que é 10 cm e eles orientam que ela empurre o bebê. Empurrar como? Ela não sente nada da barriga p baixa, então eles indicam à ela a hora certa de empurrar( nona intervenção) , o bebê não desce, então o médico pede que alguém, uma enfermeira ou o próprio anestesista empurre o bebê com os cotovelos, que se chama manobra de Kristeller, uma intervenção violenta e antiquada que pode levar à ruptura uterina, que se eu não me engano já foi proibida,mas ainda é muito usada (décima intervenção), ainda assim o bebê não desce, a mãe "não sabe" fazer a força certa! Mais uma tentativa, vamos usar o fórceps(décima primeira intervenção), mas antes devemos fazer uma episiotomia que é o corte vaginal (décima segunda intervenção).
Então o bebê nasce, mostram por 5 segundinhos para a mãe, mais uma vez quanta bondade! E é levado para ser examinado, e fazer todos os procedimentos de praxe, e volta para os braços da mãe depois de uma 3 ou 4hs, para finalmente ser amamentado! (décima quarta, quinta , sexta...)
Depois de tudo isso, a gestante vai narrar o seu parto para família e amigos com lágrima nos olhos após tanto sofrimento e ouve a frase: Viu, não falamos que a cesárea seria muito melhor e mais fácil?
E, assim , acaba nossa história... claro que não será sempre dessa forma, alguma coisa ou outra será mudada, as intervenções podem ser outras como a ruptura da bolsa, ou não chegar a tanto extremo, ou realmente acabar em uma cesárea! Aí, a gestante ouviria:" sofreu tanto e acabou em cesárea!"
E também tenho a história de uma gestante que tinha uma doula , foi bem instruída, fez seu plano de parto, mas foi totalmente desrespeitada e ameaçada... mas isto fica para a próxima postagem!
Carla Bichara
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