terça-feira, 2 de abril de 2013

Aconteceu no dia 1° de abril, mas infelizmente o meu relato é verdadeiro ...

Ontem fui acompanhar o parto de mais uma gestante, e saí do hospital com dois sentimentos: realizada,  com a sensação de dever cumprido, pois tudo correu bem com ela e com o bebê; por outro lado triste, decepcionada,indignada  com o ser humano, e com o sistema hospitalar e com a lei do acompanhante que existe mas não se tem estrutura alguma para que aconteça da forma correta.

Tudo aconteceu em um hospital público de Curitiba, que por acaso também sou voluntária, que também  não é o HC...
  Chegamos às 10 da manhã, e ela estava com 8cm de dilatação, fomos bem atendidas e logo ela foi internada no pré parto. Nesta sala havia mais 2 gestantes e na salinha ao lado também duas. Como só pode entrar um acompanhante, nós havíamos combinado que eu ficaria na fase mais complicada que é a fase de transição, e o marido dela entraria exatamente na hora do parto para ver o seu filho nascer.

Na cama ao lado da dela havia uma menina de mais ou menos 20 anos que estava muito  fragilizada, até mesmo infantilizada naquela hora. Chorava e falava como uma criancinha de 4 anos (ela estava induzindo o parto com ocitocina pois ela vinha perdendo líquido amniótico desde sábado.) Pediram para o marido sair, pois precisavam fazer os procedimentos, e isso também eu considero horrível, a cada 10min temos que sair e ficar no corredor por não ter a mínima privacidade para as gestantes. Mas este pai saiu e não voltou mais, não sei se ele não quis, mas acho que foi porque não deixaram mesmo. Então eu fui chamar o marido da Ana para que ele pudesse vê-la e ficar mais tranquilo, mas me disseram: "se você sair, não pode mais entrar, e homem não pode ficar aqui agora, pois está muito tumultuado". Então, a lei do acompanhante que diz:  "acompanhante de sua escolha" colada na porta do C.O. não tem mais valor.

 E tinha também uma outra menina em outra sala que chegou muito assustada, gritando. Foi quando ouvimos a enfermeira falar:" fica quieta, não grita, não faça escândalo, você está assustando as outras gestantes. Se você foi mulher o suficiente para fazer esse filho, então agora vai ter que aguentar essa dor sem gritar, e se não parar vou tirar a sua acompanhante daqui. O hospital já está permitindo deixar sua irmã ficar do seu lado, e você não dá valor! "

A Ana ( a gestante que eu estava acompanhando) por sua vez, só gemia baixinho, tentando não chamar a atenção, mas a menina da qual o marido havia desaparecido, chorava muito a cada contração, eu fui tentar acalmá- la, fazer um carinho nela e a enfermeira me disse que eu deveria ficar apenas com a minha paciente e não ficar nem perto das outras. Que vontade de chorar, por que eu não podia segurar nas mãos delas por alguns segundos? No que isso iria prejudicar o andamento das coisas?

Mas resolvi obedecer, pois tudo o que eles queriam era um motivo para me tirar dali. E a menina continuou chorando baixinho, sem fazer  escândalo algum, então chegou a mesma enfermeira "carinhosa" que já havia dito as "palavras de incentivo" para a outra paciente e falou: " pode parar com esse aiaiai, vc só está com dor de parto , aiaiai, é pra quem está morrendo! "

Quando  a Ana estava na momento mais difícil , depois que romperam a bolsa, começou a troca de plantão e uma das enfermeiras falou que o médico mandou que todos os acompanhantes saíssem, a Ana me olhou assustada e eu disse para ela que ninguém iria me tirar daquela sala, que Deus não iria permitir! E para a Glória de Deus simplesmente nos esqueceram e ninguém me mandou sair!

Então finalmente estava na hora do bebê nascer, eu chamei o marido dela, tudo correu bem e o bebê nasceu lindo e perfeito! Eu agradeci muito à Deus, pois vimos o cuidado Dele em cada detalhe do parto da Ana, ela estava amparada por mim e pelo marido dela, mas fiquei com o coração apertado por aquelas meninas, que a cada contração elas buscavam uma mão para segurar e um gesto de carinho e  o máximo que eu podia fazer era sorrir para elas e dizer que tudo iria dar certo!

Mas isso só me mostrou que eu preciso lutar cada vez mais e mais, nem que seja como um trabalho de formiguinha, mas que certamente o Deus que eu sirvo pode tornar isso uma grande obra!

Carla



Nenhum comentário:

Postar um comentário