Tudo aconteceu em um hospital público de Curitiba, que por acaso também sou voluntária, que também não é o HC...
Chegamos às 10 da manhã, e ela estava com 8cm de dilatação, fomos bem atendidas e logo ela foi internada no pré parto. Nesta sala havia mais 2 gestantes e na salinha ao lado também duas. Como só pode entrar um acompanhante, nós havíamos combinado que eu ficaria na fase mais complicada que é a fase de transição, e o marido dela entraria exatamente na hora do parto para ver o seu filho nascer.
Na cama ao lado da dela havia uma menina de mais ou menos 20 anos que estava muito fragilizada, até mesmo infantilizada naquela hora. Chorava e falava como uma criancinha de 4 anos (ela estava induzindo o parto com ocitocina pois ela vinha perdendo líquido amniótico desde sábado.) Pediram para o marido sair, pois precisavam fazer os procedimentos, e isso também eu considero horrível, a cada 10min temos que sair e ficar no corredor por não ter a mínima privacidade para as gestantes. Mas este pai saiu e não voltou mais, não sei se ele não quis, mas acho que foi porque não deixaram mesmo. Então eu fui chamar o marido da Ana para que ele pudesse vê-la e ficar mais tranquilo, mas me disseram: "se você sair, não pode mais entrar, e homem não pode ficar aqui agora, pois está muito tumultuado". Então, a lei do acompanhante que diz: "acompanhante de sua escolha" colada na porta do C.O. não tem mais valor.
E tinha também uma outra menina em outra sala que chegou muito assustada, gritando. Foi quando ouvimos a enfermeira falar:" fica quieta, não grita, não faça escândalo, você está assustando as outras gestantes. Se você foi mulher o suficiente para fazer esse filho, então agora vai ter que aguentar essa dor sem gritar, e se não parar vou tirar a sua acompanhante daqui. O hospital já está permitindo deixar sua irmã ficar do seu lado, e você não dá valor! "
A Ana ( a gestante que eu estava acompanhando) por sua vez, só gemia baixinho, tentando não chamar a atenção, mas a menina da qual o marido havia desaparecido, chorava muito a cada contração, eu fui tentar acalmá- la, fazer um carinho nela e a enfermeira me disse que eu deveria ficar apenas com a minha paciente e não ficar nem perto das outras. Que vontade de chorar, por que eu não podia segurar nas mãos delas por alguns segundos? No que isso iria prejudicar o andamento das coisas?
Mas resolvi obedecer, pois tudo o que eles queriam era um motivo para me tirar dali. E a menina continuou chorando baixinho, sem fazer escândalo algum, então chegou a mesma enfermeira "carinhosa" que já havia dito as "palavras de incentivo" para a outra paciente e falou: " pode parar com esse aiaiai, vc só está com dor de parto , aiaiai, é pra quem está morrendo! "
Quando a Ana estava na momento mais difícil , depois que romperam a bolsa, começou a troca de plantão e uma das enfermeiras falou que o médico mandou que todos os acompanhantes saíssem, a Ana me olhou assustada e eu disse para ela que ninguém iria me tirar daquela sala, que Deus não iria permitir! E para a Glória de Deus simplesmente nos esqueceram e ninguém me mandou sair!
Então finalmente estava na hora do bebê nascer, eu chamei o marido dela, tudo correu bem e o bebê nasceu lindo e perfeito! Eu agradeci muito à Deus, pois vimos o cuidado Dele em cada detalhe do parto da Ana, ela estava amparada por mim e pelo marido dela, mas fiquei com o coração apertado por aquelas meninas, que a cada contração elas buscavam uma mão para segurar e um gesto de carinho e o máximo que eu podia fazer era sorrir para elas e dizer que tudo iria dar certo!
Mas isso só me mostrou que eu preciso lutar cada vez mais e mais, nem que seja como um trabalho de formiguinha, mas que certamente o Deus que eu sirvo pode tornar isso uma grande obra!
Carla
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