quarta-feira, 3 de abril de 2013

Vergonha !

A Folha de São Paulo noticiou isso no domingo de Páscoa. parto normal1

Em um país onde mais de 50% dos nascimentos estão acontecendo via cirurgia cesariana, muitas delas eletivas, quando o bebê ainda não está pronto para nascer, sendo a rede privada a maior responsável por isso, com mais de 80% de cesáreas, tornando o Brasil uma vergonha mundial em termos de assistência ao parto, onde 25% das mulheres que vivem partos normais são violentadas física ou psicologicamente durante o nascimento de seus filhos, nesse país, esse mesmo em que vivemos, as operadoras de planos de saúde estão dando uma de

pombo enxadristapombo enxadrista e defecando (para não agredir a sua leitura utilizando o verbo similar) sobre a saúde materno-infantil, sobre o movimento de humanização do parto, sobre as diretrizes do Ministério da Saúde, sobre as orientações da Organização Mundial de Saúde, sobre os direitos do consumidor, sobre os 80% de cesáreas na saúde suplementar, em prol do enriquecimento cada vez maior às custas da saúde de centenas de mulheres e seus bebês.

Quando contatada pela equipe de reportagem, a Amil disse que “o atendimento de urgência obstétrica é realizado pela rede credenciada habilitada para atendimento de pronto-socorro obstétrico”. Entendeu? Ela está dizendo que parto normal é coisa de pronto socorro… Para ter  bebê na maternidade, só agendando. Ou seja: cesárea nelas ou o dinheiro aqui na minha mão!
Agora, sim, é hora de indignação total!

Onde está o respeito à mulher, à criança, à saúde, às vidas humanas que estão sendo colocadas como mercadorias baratas, em situação de vulnerabilidade, em um momento crucial de suas vidas?! Que mundo é esse onde a conveniência, a comodidade, o oportunismo – FINANCEIRO! – é superior ao valor da vida das pessoas, de sua saúde?! Onde estão as autoridades de fiscalização das operadoras de planos de saúde que não estão agindo nesse caso de extremo, claro e indiscutível desrespeito não somente aos consumidores, mas aos seres humanos, às suas experiências de vida?!

Bem, para responder essa pergunta, a equipe de reportagem foi procurar Agência Nacional de Saúde Suplementar, a ANS, que é a parto normal2

agência que regula
(?) os planos de saúde no Brasil. Sabe o que ela disse? Que ainda não recebeu nenhuma reclamação de casos como os citados na reportagem… E que isso seria necessário para que ela pudesse analisar o contrato entre a operadora e os hospitais e avaliar se há irregularidade. A agência disse ainda (e estou copiando literalmente o que está lá na reportagem, confira, verá que não estou mentindo) que as operadoras podem realizar contratos em que oferecem cobertura apenas de procedimentos agendados em determinados hospitais, mas estranhou que isso esteja acontecendo na área obstétrica.

Se a ANS, que é a ANS, “estranhou” que isso esteja acontecendo na área obstétrica, imagine o que sente uma mãe em trabalho de parto que tem o atendimento negado no momento de maior vulnerabilidade, em uma das horas mais especiais de sua vida?

Não precisa pensar muito para vislumbrar as consequências dessa prática sacana, calhorda, absurda. Muitas mulheres estão fugindo para a cesárea por medo de serem violentadas no parto. Teremos mais um motivo de fuga: o medo do não atendimento.

A mim, parece meio óbvio que se precisamos de uma força tarefa para reduzir os inaceitáveis índices de cesariana, não será forçando uma mulher a marcar a sua (ops!) cesariana que vamos conseguir, não é? E, sinceramente, se a equipe de reportagem conseguiu acesso a essa informação, sério mesmo que a ANS não sabia? Vai ficar estranhando, apenas? Não cabe investigação e intervenção compulsórias?

Bem….
Sinto-me – como muitas de nós, mulheres, ativas, ativistas, envolvidas, também devem se sentir –desanimada… Atuamos na área da pesquisa e ação em saúde materna e infantil, contra a violência no parto, em saúde coletiva e nos deparamos com esse tipo de situação… Sinto-me um ET ajudando a orientar mulheres e famílias que estão buscando seus partos felizes, e recebendo, de dezenas de pessoas (também indignadas), link para matérias como essa…

Sinto desânimo.
Às vezes, parece que esse trabalho, pequeno, constante, dedicado, quase voluntário, que todas nós fazemos, não vai dar conta, não vai funcionar. Dá vontade de desistir. Dá vontade de vir aqui e dizer: “Quer saber? Estamos desistindo… Quer vir aqui e escrever VIVA A CESÁREA!, pode vir. Quer escrever PARTO BOM É O DE BEBÊ VIVO, pode vir. Quer dizer que POR MIM PODE CORTAR A MULHER EM QUATRO DESDE QUE ME ENTREGUE UM BEBÊ BOM, vai, tá liberado”. Sim, vamos desistir. Vamos jogar a toalha, esquecer tudo isso, cuidar das nossas vidas, deixar esse tal renascimento pra lá porque, afinal, não vamos dar conta…

MENTIRA.
Primeiro de abril.
Na sua busca pelo respeito à sua autonomia, não se deixe enganar. Nunca! Nem hoje, que é primeiro de abril. Lembre-se que tem muita gente envolvida que pode te auxiliar. Nós já não somos tão poucas. Também não somos quietas. E ainda que vejamos o mundo com bons olhos, não nos enganamos fácil.
Nós não estamos nos organizando. Nós já estamos organizadas. mudar o mundo
E mentira  não está em nosso rol de evidências.
Não tente nos enganar.

“Revoltadas com o que consideram prejuízo ao parto normal “mães militantes” discutem em grupos da internet formas para “driblar” a proibição. Uma delas é recorrer a um truque com a “cumplicidade” do obstetra.  As gestantes pedem ao médico uma guia de internação solicitando ao convênio o agendamento de uma cesárea com data posterior a prevista para o bebê nascer. Assim, chegam ao hospital em trabalho de parto, antes do dia marcado, conseguem ser admitidas e fazer o parto normal. É que com a guia, elas não entram por meio do pronto-socorro. Essa foi a saída adotada por uma analista ambiental, que pede para não ser identificada por temer que o médico seja punido. “Temo agora que descubram e me mandem a conta da maternidade. Aí, vou recorrer à Justiça”, afirma. A via judicial é outra alternativa. O advogado de Joana Imparato, 31, disse para ela entrar com uma liminar e obrigar o plano a dar cobertura. “Há jurisprudências que consideram a conduta abusiva. O plano não informa antes a situação para a grávida, há falha de informação”, diz a advogada Renata Vilhena.”

Por Ligia Moreiras Sena, também conhecida como a Cientista Que Virou Mãe, com contribuição de Marília Mercer e Heloísa Salgado.
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  9 Responses to “Parece mentira… Mas não é.”

  1. ARREPIADA de tanta indignação! Por favor encostem essas operadoras na parede, mulherada!
  2. Os planos de saúde usam da diferença entre urgência e emergência para sacanear os pacientes e ganhar mais dinheiro. Meu irmão foi atropelado e quebrou um osso perto do ombro. Precisava fazer uma cirurgia urgente para retomar o movimento do braço, porém não era algo que ameaçava sua vida. Após uma burocracia infinita, onde a demora já o prejudicava (os ossos estavam colando na posição errada), somente parte dos gastos foi autorizada – em cima da hora da cirurgia. Ele foi pra mesa sem saber se poderia ou não pagar a conta. Imaginem o stress.
    E no final, apesar de pagar direitinho o convênio, depois disso tudo ainda teve que pagar a conta do hospital (mais de 8.000) onde, além da placa de titânio que ele leva no ombro, estavam coisas como sutura, entre outros.
    Parece mentira, mas não é não.

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